terça-feira, 9 de março de 2010

Avaliando o Supérfluo: BBB10

Li esse texto no blog de uma amiga e achei fantástico, não pude deixar de postar aqui também. Não que ache o tema BBB o assunto mais sério do mundo, mas alguns temas ali dentro não deixam de ser importantes, pois embora seja um reality show, tratam de fatos que nos deparamos todos os dias na vida real, como o preconceito, entre outros... e as pessoas que estão la dentro merecem nosso respeito como qualquer outra pessoa na face da terra.

O texto fala sobre o Dourado, na minha opinião o jogador mais legal, inteligente, debochado, mais "gente", mais animado da casa, merecedor do prêmio. Eu particularmente gosto de pessoas guerreiras, sinceras e leais. Como a frase que ele mesmo cita: Força e Honra. Aquele que desde o começo do programa tem arcado com todo tipo de monstro, várias vezes no paredão e agora até foi algemado. É acusado de preconceito, quando ele próprio sofre isso na pele, é amado ou odiado. Enfim, abaixo está um pouco mais sobre o personagem mais polêmico do BBB 10.


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O Shrek Dourado

Lendo a Mary W., que eu adoro, dei de cara com isso e resolvi fazer a reflexão de quem gosta sim, do que está vendo do Dourado. De quem se identifica, sim, e não vê homofobia ali. Na primeira semana de BBB eu não conseguia nem olhar pro Dourado por que enxergava fracasso. Com o olho esquerdo meio caído de tanta bancada, olheiras profundas, barba grisalha, dentes podres e a calvice surgindo. Achei desnecessário e deprimente a Globo apelar para ex-BBBs para movimentar um início de jogo que sempre começa morno. Ninguém estava feliz com a presença destes ex na casa, nem os novos BBBs nem o público. A diferença é que os novos moradores se incomodaram mais, por que viam a gana de vencer no rosto do Dourado e suas próprias imagens refletidas nos olhos dele. Talvez uma projeção de suas imagens sem a determinação que ele possui ou talvez uma projeção de suas imagens como futuros ex-BBBs fracassados, por que apenas um será o vencedor. É agressivo à vaidade e ao ego se enxergar refletido nos olhos do outro como um looser. Só que para se defender do que estavam vendo, aquelas pessoas escolheram a pior estratégia disponível: chutar cachorro morto. Dourado estava tão morto no jogo e tão sem chances com o público quanto Joseane, mas contou com a sorte e com a solidariedade da companheira e foi presenteado com mais uma semana na casa. Essa uma semana a mais mudou o jogo pra mim. Estava assistindo ele acordar e cumprimentar todos os adversários com um cordial bom dia sem obter nenhuma resposta há sete dias. Ele tentava toscamente se enturmar com uma turma que não é a dele, inclusive, por que ele tem mais de 15 anos do que a média do povo lá dentro e isto pesa, são duas gerações antes do Serginho, por exemplo. As pessoas não davam nenhuma chance. Sim, ele fez brincadeiras inconvenientes e contou piadas sem graça. Atire a primeira pedra quem nunca passou por situação parecida. Somado a isto, ele foi criado como gaúcho e sim, isto faz diferença, por que criança é massinha de modelar nas mãos dos pais e é produto do meio onde vive. Aqui no Rio Grande do Sul o pensamento dominante ainda é o de que homem é homem, mulher é mulher e macaco é macaco, como na letra da música. Acho uma merda, mas é assim. No RS os meninos que nasceram na década de 70 e tiveram a sorte de serem criados por mulheres que não tinham (pré)conceitos aprenderam a convier com o diferente e a respeitar o diferente, e quem não teve essa sorte não aprendeu na escola. Dourado é filho do exílio e lá nasceu. Dourado é filho de uma bailarina e pro ballet foi mandado durante a infância enquanto o pai era torturado em outro país por que pensava diferente. Ele aprendeu a respeitar o diferente, mas respeitar não significa compreender. A diferença entre respeito e compreensão não é meramente uma questão semântica. Ele respeita os homossexuais e aceita sua subcultura, como disse a Mary W., mas não os compreende, por que ele sente o oposto. Marcelo Dourado consegue despir uma mulher só com os olhos, de tanto que gosta. Gosta de mulher e gosta de ser homem no sentido másculo da palavra, se é que existe um sentido másculo para a palavra homem. Isto não é homofobia é incapacidade de compreensão da essência do outro. A incapacidade dele de compreender como um homem pode gostar de usar maquiagem e salto alto e não gostar e não sentir prazer com uma mulher é gritante, mas ao contrário, ele consegue compreender como a Angélica pode gostar e sentir prazer com uma mulher. Eu duvido que o filho de um cara que apanhou até por dentro dos olhos por que pensava diferente não vá sentir respeito por quem é diferente e não tem vergonha de demonstrar isso pra massa. Foi por isto que os pais dele lutaram. Os colegas de confinamento não conseguiram enxergar a incapacidade de compreensão do Dourado como um minus para ele mesmo (por que é isso mesmo que é, uma incapacidade é um diminutivo no potencial da pessoa) e muito possivelmente por já terem sido vítimas de incompreensão acompanhada de (des)respeito anteriormente. Os próprios gays não tiveram a sensibilidade para perceber que desta vez o estranhamento provocado pela incompreensão vinha acompanhada de respeito. Talvez não tenham sentido exatamente por que suas carnes já devem estar duras de tanta pancada, como a do Dourado também está. Uns apanharam e apanharão por serem homossexuais e outro apanhou e apanhará novamente por ser um ex-BBB. Assistindo do meu sofá a cruzada entre o Dourado e os demais participantes, o que concluo é que o olhar que vê é o mesmo que é visto e vice e versa. São os mesmos estranhamentos decorrentes das mesmas incapacidades de compreensão do outro, mas com a demonstração de posturas completamente diferentes diante de suas próprias incapacidades. Enquanto Dourado sentiu a rejeição e ficou introspectivo/reflexivo tentando perceber onde e o que estava errado, os demais optaram por debochar quando ele não estava por perto, virar a cara quando ele chegava e não responder quando ele lhes dirigia a palavra, culminando naquele patético tribunal onde as quatro idiotas se sentiram no direito de dizer a um adulto como ele deveria agir para sua presença ser tolerada por eles e, por mim, público que pagou o PPV e supostamente não estava gostando do que estava vendo. Foi exatamente neste dia, na segunda semana, que pra mim o jogo virou. Chutar cachorro morto é covardia e não tolero. O bicho renasceu. E não foi só pra mim. Pra terminar, se quiserem analisar o Dourado não é possível desconsiderar seu passado. Se ele é um ex-BBB o contexto do anterior BBB também vem à tona. Lá, no BBB4, quando ele resolveu namorar uma barraqueira e não levantou a voz com ela nenhuma vez, e agora, no BBB10. Lá, no BBB4, quando o Rogério coveiro ficou encantado com ele (mas pegou a nossa Diva Sol-o-poprema-é-meu) e a Globo fez uma montagem-novelinha de amor entre os dois, Marcelo levou na brincadeira, mas o mundo masculino e pré(conceituoso) das lutas de vale-tudo não levou e ele teve que enfrentar o (pré)conceito contra homossexuais sem ser homossexual, exatamente como quando a mãe lhe colocou nas aulas de ballet no início da década de 80. E agora, no BBB10, quando o Bial resolveu fazer uma piada que dá a entender que a mesma novelinha de amor está sendo passada na edição, com o agravante para o pessoal do vale-tudo de que numa das pontas temos um homossexual assumido, não foi a possibilidade de ser amado por um homossexual que fez Dourado praguejar; foi a possibilidade de sofrer todo o (pré)conceito contra os homossexuais novamente, sem ser um homossexual. No mínimo, pela terceira vez na vida.

Um comentário:

  1. Uau, você estava inspirada para escrever nesse dia. Se continuar nesse ritmo te aconselho a começar a escrever um livro.

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